15 de abril de 2018

O Teatro do Oprimido de Augusto Boal e o reposicionamento frente às notícias.

Por: Diego Barros
       Diretor do Centro Cultural Brasil-Finlândia

O Teatro do Oprimido teve sua origem a partir das experiências realizadas por Augusto Boal, no final da década de 1960, e teve seu auge com o lançamento do livro Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Politicas, em 1975.

O conteúdo estético-teatral do Teatro do Oprimido - fortemente influenciado pela Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire - pode ser expresso, em cena, através de diferentes metodologias. Uma delas, que não figura entre as técnicas mais conhecidas, é intitulada Teatro Jornal. Esta forma teatral foi criada em resposta à falsa imparcialidade dos meios de comunicação, os quais, no entendimento de Boal, serviam na verdade como instrumento de divulgação implícita dos ideais dos seus proprietários.

O Teatro Jornal é um conjunto de doze métodos de transformação de textos jornalísticos em cenas teatrais que visa desmascarar a dita imparcialidade dos meios de comunicação, trabalhando em cena justamente os acontecimentos que eram distorcidos nas versões midiáticas. Revelava-se na apresentação as entrelinhas da notícia. Também mostrava-se ao público como na prática os editores de um jornal poderiam manipular o sentido de uma notícia, não somente manipulando o emprego das palavras, mas também a partir da própria diagramação do jornal. O Teatro Jornal foi criado no início da década de 1970, e foi muito utilizado em seus espetáculos no Teatro de Arena, em São Paulo.

Nos últimos tempos, o mundo encontra-se sob o jugo de uma crise econômica que, desde o início do segundo decênio do século XXI, tem influenciado mais nitidamente e incisivamente a realidade de diferentes sociedades. Ainda que o acesso à informação hoje em dia seja facilitado pela distribuição e compartilhamento nas redes sociais, por outro lado, a informação é mais facilmente manipulada por aqueles que conhecem e controlam os meios para tal. A crise - antes moral do que econômica -, oferece por outro lado uma necessidade de busca por um reposicionamento em relação a certos valores. Este reposicionamento, antes de ser confundido como uma tentativa de revolução, se constitui enquanto uma busca pela evolução, que é afinal a direção para a qual tudo e todos invariavelmente marcham.

*Para mais informações sobre Teatro do Oprimido, atores não-profissionais, ou sobre diferentes estéticas teatrais contemporâneas, acesse a versão online da tese Em busca de um ator livre: ideias sobre o não-ator em contextos teatrais contemporâneos, publicada pela Universidade de Lisboa:
repositorio.ul.pt/bitstream/10451/24546/1/ulfl216716_tm.pdf