21 de julho de 2019

Pluralidade no ensino da Língua Portuguesa

Por: Adriana Minhoto
Jornalista formada (FMU, Brasil), com especialização em Gestão de Desenvolvimento Sustentável (FMU, Brasil) e Comunicação Intercultural (Aalto University, Finlândia). Atualmente vive na Finlândia, mas nunca deixou o gosto da escrita em português de lado.


Uma língua não apenas representa a forma de um povo se comunicar, mas a maneira dele viver e se relacionar com a sua realidade atual e com a sua identidade cultural. O ensino do português língua materna e língua de herança não se resume a conteúdos didáticos de sala de aula, mas a forma como  o professor transmite ao aluno o conhecimento, demonstrando a importância da língua nas relações humanas e na construção de sua identidade.

No ensino da língua portuguesa no Brasil, leva-se em consideração a diversidade cultural de nosso povo. O Brasil é um país multicultural devido a sua colonização, e por esse motivo formou-se uma pluralidade cultural e linguística.

Tendo em conta as diferenças regionais tão grandes, onde temos sotaques diferentes e palavras distintas para o mesmo objeto, o ensino se torna um desafio. Na prática pedagógica para a formação de cidadãos deve-se compreender o contexto sociocultural em que estão inseridos com um olhar crítico, mas sem esquecer-se de sua identidade cultural.

Já no ensino da língua portuguesa fora do Brasil, a atenção à aprendizagem deve ser de forma mais lúdica, pois as crianças já têm em suas casas culturas bem diferentes e, às vezes, o contato com o português vem somente de um lado - um dos pais tem como língua materna. Deve-se levar em consideração que a base da alfabetização da criança e sua identidade cultural são outras.


Logo, o ensino deve conter mais entretenimento, mesclando gramática com brincadeiras, histórias e música para que a criança aprenda a cultura e a identidade de sua língua e de seu povo. Além disso, não se pode esperar que essas crianças sejam totalmente fluentes, mas que entendam sua língua de herança e saibam se comunicar.


26 de março de 2019

Língua materna: cultura e identidade

Por: Adriana Minhoto
Jornalista, com especialização em Comunicação Intercultural

Morar fora, ser casado com uma pessoa de outra nacionalidade e ter um filho em outro país... Atualmente essa é a condição de muitos brasileiros e o grande dilema da maioria é como introduzir a nossa língua e cultura na vida das crianças.

Para Patricia Carvalho Ribeiro, professora de Português como Língua de Herança e Língua Estrangeira, atuando na Finlândia há 10 anos e que dá aulas na Oficina de Português para Crianças, oferecida pelo Centro Cultural Brasil-Finlândia, ensinar a língua portuguesa para os pequenos é importante no processo de construção da sua identidade. “Nós sabemos que a língua é como um veículo que carrega em si a cultura, os valores e a identidade de um povo. Contudo, vivendo fora do Brasil, a criança pode ter muita dificuldade de se reconhecer como brasileira e, consequentemente, falar português.”

O brasileiro Eduardo Domingues de Jesus, casado com uma finlandesa e com dois filhos tem opinião semelhante. “Acho que o ensino língua materna dos pais de qualquer criança seja crucial, pois é a língua do afeto; e afeto e afinidade são os maiores ingredientes pedagógicos possíveis na motivação aprendendo um idioma.”

Virgínia Brilhante e o marido, que é grego, também consideram importante que as filhas tenham contato com a língua nativa materna e paterna.  “As línguas são pontes para as culturas de onde viemos e são intrínsecas ao que somos como pessoas e pais. O idioma também fortifica a relação das meninas com nossas famílias.” O casal tem duas filhas.

“Temos quatro línguas em casa: português, grego, inglês e finlandês. Moramos na Escócia por seis anos quando nossa filha mais velha estava em idade escolar infantil, então ela foi alfabetizada em inglês. Desde que a caçula nasceu, aqui na Finlândia, usamos com ela cada um sua língua nativa”, diz Virgínia.

Na família de Eduardo é mesma situação. “Desde quando [as crianças] nasceram optamos por cada um de nós falarmos exclusivamente a língua materna de cada um, mas é claro, como qualidade, o finlandês é praticado mais do que qualquer outra língua, pois é o idioma de alfabetização deles”.

Crianças bilíngues, crianças do mundo

A geração que nasce fora do Brasil é uma geração bilíngue. Mais do que isso, são crianças que pertencem ao mundo e não somente ao país onde nasceram, mas sabendo a língua materna de seus pais, ganham diversidade cultural e oportunidades na vida adulta.

Claro que, com todo esse aprendizado de línguas, a da alfabetização acaba sendo sempre a mais forte para a criança. Mas o fato de conhecer outras línguas e poder se comunicar em diversos idiomas quebra barreiras. “Não temos a expectativa, nossas filhas desenvolvam ao mesmo tempo as quatro línguas ao mesmo nível. Sabemos por experiência que a familiaridade com as línguas varia ao longo do tempo de acordo com as vivencias que as crianças vão tendo”, finaliza Virgínia.

Assim, a importância de ensinar português para as crianças que estão vivendo em outros países e sendo alfabetizadas em outro idioma passa tanto pela questão da identidade cultural delas, como na manutenção da comunicação dessas crianças com seus familiares, além de promover nossa língua e cultura perante outros países.

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Adriana Minhoto é jornalista formada (FMU, Brasil), com especialização em Gestão de Desenvolvimento Sustentável (FMU, Brasil) e Comunicação Intercultural (Aalto University, Finlândia). Atualmente vive na Finlândia, mas nunca deixou o gosto da escrita em português de lado.





5 de fevereiro de 2019

A Importância da Língua de Herança

Por: Maila-Kaarina Rantanen
       Editora geral da plataforma Brasileirinhos pelo Mundo

Em novembro de 2017 foi lançada a plataforma colaborativa Brasileirinhos pelo Mundo (ou BPM Kids), escrita por mães brasileiras residentes em diversos países, com vistas a informar e dividir experiências sobre diferentes aspectos da vida e da educação pelo mundo.

O BPM Kids divide-se em categorias que abrangem todos os tipos de temas referentes à maternidade. Destaco neste artigo, as que falam sobre português como língua de herança (PLH) e bilinguismo.

A repercussão destes temas chama a atenção principalmente no que diz respeito a dúvidas e mitos. Ainda há um número considerável de pessoas que acreditam que expor a criança a dois idiomas causará atraso no desenvolvimento da fala, prejudicará seu desempenho escolar ou sua integração social. Segundo a fonoaudióloga brasileira, radicada nos Estados Unidos e pesquisadora do bilinguismo, Claudia Amalfi Marques, em seu artigo “Desmitificando esse tal de bilinguismo – parte 1”:

“...não há evidências científicas de que a exposição a um mundo bilíngue atrase o desenvolvimento da fala! Entretanto, devemos lembrar que para que ocorra a aquisição e desenvolvimento adequado da linguagem, muitos fatores estão envolvidos desde o nascimento do bebê.”

São diversos os artigos acadêmicos que discorrem sobre o assunto bilinguismo na infância e a maioria dos estudiosos concorda que este é um fator positivo ao desenvolvimento da criança e não é responsável por atrasos na fala.

A Finlândia, país onde resido, possui duas línguas nacionais: o finlandês e o sueco. Mesmo a quantidade de famílias falantes de sueco sendo pequena (apenas 5,4% da população), existe um consenso sobre a importância da língua de herança. Há inclusive políticas públicas que garantem a língua de herança como um direito das crianças.

A clínica da maternidade finlandesa (“neuvola” em finlandês) tende a considerar que o “atraso” na fala deve ser investigado somente após os 3 anos e meio ou 4 anos de idade.

Em minhas pesquisas e conversas com profissionais locais, a informação que obtive é que, na Finlândia, a capacidade de compreensão da criança é mais importante do que um vocabulário extenso até os 3 anos e meio, ou seja, se a criança entende, mas não fala muito, isto tende a ser considerado normal, pois o processo de expressão oral varia muito e esta variação não está relacionada ao bilinguismo.

Acompanhando a reação de pais e mães aos artigos publicados sobre o assunto no BPM Kids, percebo que famílias que vivem em países onde o idioma nacional é o inglês, tendem a serem pressionadas a falarem só inglês com seus filhos, sob a alegação de que a criança está “atrasada em relação aos outros colegas de turma”. A estes pais e mães, deixo a sugestão de que pesquisem artigos científicos para usarem como base argumentativa quando ouvirem este tipo de absurdo, pois a não ser que seu filho seja diagnosticado por um profissional com alguma disfunção cognitiva, o que representa uma exceção, culpar o bilinguismo é algo ultrapassado e até mesmo contraditório.

Há muitos países bilíngues no mundo e uma grande parte deles está no topo dos rankings mundiais que avaliam a qualidade da educação. Países como a Finlândia, o Canadá, a Suíça e a Bélgica, por exemplo, estão dentre os que apresentam excelentes resultados em alfabetização e leitura e todos possuem mais de um idioma nacional.

É importante que os pais pesquisem sobre o assunto e que, acima de tudo, parem de comparar seus filhos com a criança B ou C. Como pais, temos que respeitar as particularidades de nossos filhos e entendê-los como seres-humanos únicos. Da mesma forma que alguns andam mais rápido e que outros param de usar fraldas mais cedo, por exemplo, há os que falam mais cedo e os que falam mais tarde. Não deixe de dar ao seu filho o grande presente que é a língua de herança.

Para saber mais sobre o tema, convido-os a seguir o Brasileirinhos pelo Mundo e a entrar em contato com nossas colunistas que escrevem sobre o tema.

Links sugeridos para leitura:

Desmitificando esse tal de bilinguismo – parte 1. Leia aqui 
Desmitificando esse tal de bilinguismo – parte 2. Leia aqui
Como as crianças se adaptam e aprendem outras línguas. Leia aqui

Maila-Kaarina Rantanen é editora geral da plataforma Brasileirinhos pelo Mundo, foi diretora do Centro Cultural Brasil-Finlândia da Embaixada do Brasil em Helsinque por 5 anos e, durante sua gestão, cuidou de assuntos relacionados a cooperação educacional e promoção da língua portuguesa e da cultura brasileira na Finlândia.