4 de setembro de 2018

Competência digital

Por: Luciana Lousada

Professora de Português Língua Estrangeira

Formada em Letras (Português/Inglês)
Mestrado em Estudos Latino-americanos
Master em Tecnologia e Inovação Educativa (em curso)

Há mais ou menos duas décadas, o termo competência digital vem sendo utilizado no âmbito de projetos e políticas educacionais. Desenvolver a competência digital ganhou importância a partir do momento que o acesso à Internet se popularizou, ou seja, ultrapassou as fronteiras das instituições de pesquisa e universidades. Apesar da competência digital estar tão presente nas políticas educacionais, ainda há espaço para esclarecer o que é essa competência ou o que ela  abrange. Isso se deve, em parte, ao fato da definição passar por ajustes e atualizações a fim de acompanhar as evoluções que ocorrem na área da tecnologia, trazendo novas possibilidades, mas também novos desafios.

A competência digital é a capacidade de “utilizar a tecnologia da informação e comunicação de forma segura e crítica para obter, avaliar, armazenar, produzir, apresentar e trocar informações, e para comunicar e participar em redes de cooperação através da Internet para o trabalho, o lazer e a comunicação” (Comissão Europeia, 2007).

Uma competência digital baixa ou ausente está relacionada com o desemprego, a possibilidade de exclusão social e baixas conquistas educacionais. Com a tecnologia digital cada vez mais presente nos campos profissional, privado e público, desenvolver as competências digitais significa capacitar os cidadãos para futuros desafios na vida social, econômica e cívica. 

São cinco áreas de competência digital, compostas por diferentes níveis de proficiência: literacia de informação e de dados; comunicação e colaboração; criação de conteúdo digital; segurança; e resolução de problemas.

Essas áreas e os níveis de proficiência estão bem documentados e acessíveis aos interessados. É uma competência complexa que se desdobra ainda em outras 21 competências, como por exemplo, ser capaz de utilizar motores de busca e filtros, proteger dados pessoais e utilizar ferramentas de colaboração online.

Sabemos que o acesso às ferramentas TIC, tão necessário ao desenvolvimento das competências digitais, varia de acordo com o país, a região e a escola. São desafios da área técnica e de infra-estrutura. Mas existe um outro desafio: a proficiência dos professores e educadores.

O professor precisa desenvolver suas competências digitais tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Ele é uma referência para seus alunos. Como desenvolver as áreas que foram apontadas anteriormente, se o próprio professor não está preparado ou não conta com suporte para seu desenvolvimento? Professores e educadores que têm um bom nível de proficiência digital estão mais seguros para aplicarem a tecnologia digital no ensino. Por outro lado, aqueles que têm dificuldades ou fazem pouco uso das tecnologias digitais, demonstram insegurança. Por isso, acabam não favorecendo o desenvolvimento da competência digital na sua prática pedagógica. Além disso, lidar com crianças e adolescentes que nasceram e estão crescendo numa sociedade onde a tecnologia digital, que eles usam com muita facilidade, já faz parte do cotidiano, é para muitos mais um fator de insegurança.

Fora as questões técnicas e de infra-estrutura, quanto maior for o uso da tecnologia digital na esfera pessoal do professor, mais facilmente ele aplicará seus conhecimentos na prática profissional e maior será o êxito em desenvolver a competência digital de seus alunos.


Referências bibliográficas/Links:

European Commission (2007) Key Competences for Lifelong Learning – European Reference Framework 
https://ec.europa.eu/jrc/sites/jrcsh/files/DIGCOMP-FINAL-%20UPDATED%2002-06-2016.pdf
http://publications.jrc.ec.europa.eu/repository/bitstream/JRC110624/dc_guide_may18.pdf







6 de maio de 2018

Direito e Língua Portuguesa: uma parceria que dá certo

Por: Natália Caravello Rodrigues Pimentel
Advogada. Bacharela em Direito pela PUC-Rio. Pós-graduanda em Direito Público e Privado pela EMERJ.

Embora a ciência jurídica traga diversos conceitos para o Direito, é comum falarmos que se trata de um conjunto de normas que visam a organização de uma sociedade. Para tanto, deve-se considerar, para a sua elaboração, os contextos histórico, político, cultural e social.

Em muitos ordenamentos ao redor do mundo, tal como ocorre no Brasil, essas normas, fruto de um processo legislativo competente, são escritas. Desse modo, verifica-se que a palavra assume um papel fundamental para o Direito, ditando comportamentos humanos, ora para legitimar condutas sociais, ora para tornar certas ações como ilícitas.

Além disso, sabe-se que o uso do emprego adequado das palavras desempenham uma função essencial para uma boa comunicação, sobretudo, em idiomas com riqueza de vocabulário, como a Língua Portuguesa. Entretanto, o emissor da mensagem, a todo tempo, deve estar atento ao uso das palavras visto que é comum que um mesmo vocábulo assuma mais de um significado, sendo importante valer-se do contexto para compreender qual sentido o discurso pretende alcançar. Portanto, seu uso inadequado pode causar incompreensões e prejuízos na comunicação.

Nesse sentido, a palavra, além de ser fundamental para a elaboração da norma jurídica, é essencial para o cotidiano de qualquer operador do direito: estudantes de Direito, bacharéis, advogados, juízes e membros do Ministério Público, em todos os momentos da sua carreira profissional manifestam-se, por meio de peças processuais escritas e sustentações, visando o alcance do que entendem como senso de justiça.

Dessa forma, ao se defrontar com a norma – desde a Constituição da República até um mero Regulamento, os operadores buscam uma interpretação do texto escrito em função melhor atenda aos interesses de seus clientes ou jurisdicionados, o que é possível dada  amplitude da Língua Portuguesa. Muitas vezes, o mesmo dispositivo pode ser lido de maneiras distintas, provocando grandes discussões jurídicas no curso de um processo.

Nesse cenário, é comum que as Universidades ofereçam a Língua Portuguesa como disciplina a ser estudada nas Faculdades de Direito. Ademais, ela é cobrada em concursos públicos de diversas esferas, o que gera grande preocupação nos candidatos para o uso correto da gramática na ocasião das provas.

Por fim, cabe ressaltar que os textos jurídicos, como peças processuais, sentenças e acórdãos são formas de comunicação entre os advogados e juízes e demais componentes da sociedade. Portanto, é salutar que a Língua Portuguesa seja aplicada de forma clara e que permita a compreensão de todos, não somente pela comunidade jurídica. Com isso, a depender do caso, o famoso “juridiquês” – às vezes, pautado em certas expressões em latim – deve ceder lugar ao linguajar que, embora seja técnico, esteja próximo da sociedade para fácil entendimento.

Portanto, a palavra é uma ferramenta crucial para o exercício do Direito. Em especial, os operadores jurídicos brasileiros são privilegiados por estarem amparados pela grandiosidade da Língua Portuguesa na empreitada que é convencer o outro acerca de seu ponto de vista.

28 de abril de 2018

Crianças da nova geração – como lidar com elas?

Por: Evelyse Eerola
Educadora e consultora educacional. Especializada em Educação Especial pela Universidade de Helsinque. Atualmente reside na Arábia Saudita.

Elas são chamadas de crianças do novo milênio, crianças da nova era, da nova geração ou mesmo, crianças cristais pelos espiritualistas. Pais, médicos, professores... todos falam sobre como as crianças desta nova geração são incrivelmente precoces. No entanto, encontra-se muito pouca discussão em relação como pais e professores deveriam agir com estas crianças a fim de tirar o melhor deste imenso potencial que elas apresentam. Para educar corretamente estas crianças da nova geração, professores e pais necessitam reiventar novas fórmulas. Tanto para manter o interesse ativo como para prepará-las para serem adultos equilibrados e felizes.

Quando nós analisamos a dinâmica das novas gerações, geralmente estas têm a tendência de ser mais desenvolvidas do que a anterior, principalmente no que tange a tecnologias. Nós podemos ver como uma criança consegue lidar com um smart phone ou um computador melhor e mais rápido que nós. Na verdade, esta é uma geração de nativos digitais! Da mesma forma, lembramos como é ou foi difícil tentar ensinar nossos avós a usar o computador ou mesmo lidar com a velha secretária eletrônica.

Seria a tecnologia e seus constantes avanços a responsável por estas crianças super inteligentes? Talvez alguma memória acumulada do passado de gerações que, de alguma forma, tenha alternado células do cérebro e suas sinapses, mesmo antes deles nascerem? Na verdade, este desenvolvimento acelerado não é só em relação ao desenvolvimento intelectual, mas também físico e neuromotor.

Talvez você se lembre quando a sua avó comentava que em sua época os bebês demoravam geralmente três dias para abrir os olhos e cerca de uma semana para começar a mexer a cabecinha para os lados.

Hoje, médicos pediatras testemunham que crianças desta nova geração possuem um desenvolvimento precoce da sua coordenação motora e começam a ficar alertas muito mais rápido, comparadas com as gerações anteriores e, por vezes, comparadas até com os seus irmãos mais velhos.

Algumas pesquisas têm sido realizadas em relação a isto, mas nada conclusivo ainda. Uma destas foi desenvolvida pelo centro médico de Cornell em Nova Yorque, onde pesquisadores analisaram três grupos diferentes de bebês, em relação as suas habilidades motoras, qualidade de movimento e reflexos neurológicos. Os bebês foram testados em diferentes idades: 3, 6, 9 e 12 meses após o nascimento. Vários eram os objetivos da pesquisa, mas resumindo, entre o grupo de bebês saudáveis, a maioria mostrou-se acima da média na categoria neuromotor. Em outras palavras, através de testes foi conluído que o desenvolvimento precoce está se tornando uma característica a todas as crianças saudáveis desta nova geração e não mais uma exceção.

Infelizmente, a maioria destas pesquisas se concentram em problemas ou síndromes que afetam o sistema neuromotor. É extremamente difícil encontrarmos uma pesquisa  mais aprofundada sobre o desenvlvimento precoce nesta área e suas causas.

Em relação aos pais

Todo esta rápida evolução social e tecnológica, logicamente tem produzido uma nova geração de pais também. Antigamente, quando você saía para um fim de semana com os seus amigos, sua mãe dizia aquela famosa frase: Não esqueça de levar um casaquinho!
Hoje, as mães dizem: não esqueça o carregador do celular! Isto reflete as mudanças de paradigmas do que é mais importante hoje em nossa sociedade.

Se você der uma pesquisada na Internet sobre os pais de hoje em dia, você vai encontrar diferentes designações e diferentes modos de educação ou, não educação!. A maioria dos artigos critica ferozmente os pais da nova geração, onde acertar é exceção. Parece que esta nova geração de pais está completamente perdida entre o rápido avanço da sociedade, o materialismo, a culpa, a tecnologia e suas crianças prodígios. Logicamente não é uma tarefa fácil saber como dar uma educação que forme adultos equilibrados no futuro para as crianças desta nova geração.

Aqui vão algumas dicas:

Disciplina

Para início de conversa, esta nova geração precisa de limites. Sim, eu sei que os pedagogos de hoje em dia abominan a palavra disciplina e consideram-a como parte de uma educação antiga e tradicional. No entanto, estas crianças são muito espertas e podem facilmente manipular os pais. Elas têm um enorme potencial de aprendizado, mas elas ainda não sabem como canalizar estas habilidades. Por esta razão, elas precisam de uma disciplina forte, porém justa. Você pode disciplinar seu filho sem ser um tirano, isto é completamente possível. Neste processo, pais precisam atuar mais como professores.

Este era um assunto recorrente quando eu era professora em Helsinque. Era parte do meu trabalho orientar os pais também, principalmente os mais jovens. Disciplina não significa falta de diálogo, pelo contrário, deve ser a porta para tal. Pais podem estabelecer a rotina e regras da casa juntamente com as crianças, mesmo com os pequenos, fazendo com que eles sejam parte do processo. Esta nova geração não aceita o ”porque sim” ou  ”porque não”, mas eles possuem sim a capacidade de compreensão se é lhes dada a chance do diálogo.

Outra questão é o choro. A maioria dos pais e, principalmente os avós, se deixam sensibilizar quando uma criança chora. O choro é a forma das crianças se comunicarem, principalmente as pequenas. Elas não têm o controle das emoções ainda desenvolvido como nós e é a maneira delas se expressarem ao mundo. Isto é normal e nós precisamos compreender que quando uma criança se sente frustrada ela irá chorar!! O melhor conselho é: deixe a sua criança chorar! Não faça exceções ou volte atrás nas suas decisões por causa do choro. O choro é um direito da criança, por mais que isto incomode. Pesquisas mostram que as crianças que mais choram são aquelas que os pais mais mimam, significando que é um ciclo vicioso, ela aprende que chorando ganahará algo.

Deixe seu filho chorar, após tenha um diálogo construtivo com a criança, abrace, deixe claro que você pode não ter gostado de alguma atitude dele, mas que você continua amando-o muito. Tentar evitar a frustração de uma criança é a pior coisa que você pode fazer pelo seu futuro. Acredite-me, você estará contribuíndo para um adolescente e adulto fraco e deprimido. Disciplina e diálogo são os segredos para uma boa educação.

Incentivo à sensibilidade

Segundo a teoria das múltiplas inteligências de Gardner, consta que possuímos a inteligência musical, interpessoal e naturalista entre outras e, todas teriam suas origens genéticas. Portanto, podemos deduzir que algumas inteligências podem estar adormecidas e outras podem ser ativadas nesta nova geração.

O retorno, ou a busca à sensibilidade é muito importante e tem sido esquecido pelos pais da atualidade. Nós precisamos de uma pausa deste mundo competitivo. Durante muitos anos só uma parte da inteligência foi estimulada, porém nossas crianças já nascem com as outras também desenvolvidas. É importante os pais não tentarem construir o futuro dos seus filhos com base nas suas próprias experiências: bona cursos, melhores colégios, melhor universidade, mestrado, doutorado, ser competitivo, pró ativo e pior de todos: ser o melhor!

Segundo as pesquisas de Gardner, não há uma competência intelectual mais importante que as outras e todas devem ser estimuldas. Coloque o seu filho mais em contato com as artes, com a natureza e animais. Deixe eles escolherem o que mais lhes aprecia, não force! Se não for matemática, tudo bem. Ser o melhor aluno na escola não garante um bom futuro para ninguém. 

Por favor, esqueçam as competições, estimule a criança a dançar, atuar, pintar, cantar ou mesmo fazer algum esporte, mas pela satisfação, não pela competição. Esta geração de jovens já bateu todos os recordes de depressão porque existe a sensação que eles nunca são bons o bastante. O futuro nos mostra que precisaremos de adultos mais sensíveis e empáticos.

Regule o tempo deles em frente ao computador ou jogos, especialmente os violentos. Estes avanços na tecnologia são benéficos e eles têm que ter esta habilidade desenvolvida para o futuro, sem dúvida, mas tem que haver um controle na infância. Dê mais qualidade de tempo com seu filho e com sua família. Nenhum video game pode substituir você!

Os professores

Como professora, eu tive oportunidade de trabalhar com estas crianças. As crianças da nova geração são super inteligentes e rápidas e se os professores souberem como lidar com elas, podem fazer um excelente trabalho e obter ótimos resultados. No entanto, uma coisa é certa: você não pode navegar por novas terras com velhos mapas!

Estas crianças precisam ser desafiadas. Se você está em frente a uma turma de crianças espertas e curiosas por aprender coisas novas...então você faz o seguinte: você pede a elas que abram o livro no próximo capítulo e leiam em silêncio a lição que após, você explicará em monólogo. Você simplesmente reproduz a forma de ensino da sua velha professora. No final do dia você reclama aos seus colegas que as crianças são desinteressadas e não querem aprender.

Alguns professores simplesmente podem matar o desejo destas crianças de aprenderem. A questão é que esta nova geração está a 100Km/h e a escola vai a 20km/h. Professores precisam rever suas práticas e a escola também.

Novamente a disicplina e o diálogo são importantes ferramentas. O professor precisa abrir o diálogo e construir junto com os alunos as regras. Isto se faz muito aqui na Finlândia, desde a educação infantil. Isto estabelecerá uma boa base para o início das atividades. As crianças se sentem comprometidas com os acordos e os distúrbios em aula diminuem sensivelmente.

Pesquisas feitas em escolas de áreas de risco nos Estados Unidos, mostraram que os alunos apresentavam um melhor rendimento quando a escola aplicava a disciplina não punitiva juntamente com o diálogo. Pais, professores e comunidade sentiram a diferença. Os americanos chamam de disicplina positiva e ficou provado que os alunos se sentim mais seguros quando existiam regras claras, frutos de uma construção conjunta.

Neste caso, trabalha-se a sensibilidade também. Educadores têm esquecido a parte emocional dos alunos, principalmente em escolas de áreas de risco. No entanto, esta pode não a melhor, mas com certeza, é uma das melhores soluções para um ensino efetivo – disciplina, diálogo e um bom plano de aula.

Concluíndo, pais e professores precisam de uma abordagem diferente para lidar com esta nova geração. Pais precisam ser mais presentes, abertos ao diálogo e entender que criança mimada é um candidato a um adulto depressivo.

Para educadores e escola, é sugerido uma revisão de suas práticas e envolvimento. Nós precisamos ver os alunos como indivíduos e trabalhar também a sua parte emocional. Para as escolas particulares, não vejam seus alunos somente como clientes.

Pink Floyd já dizia que os professores eram somente mais um tijolo na parede e que as crianças não queriam o mesmo. Professores, não sejam apenas mais um tijolo na parede! Vamos quebrar esta parede!

Aqui algumas referências que me foram de grande ajuda:

What is Positive School Discipline? Leia aqui/Read here .
Achieving Motor Development Milestones at the Age of Three Months May Determine, but Does Not Guarantee, Proper Further Development. Leia aqui/Read here.
The Next Generation: What Matters To Gen We. Leia aqui/Read here.


Sobre Evelyse Eerola:
Educadora e consultora educacional. Graduada em História e Pedagogia no Brasil, com especialização em gestão escolar. Na Finlândia especializada em Educação Especial pela faculdade de Helsinki. Atualmente reside na Arábia Saudita.
Blog: New View Education





15 de abril de 2018

O Teatro do Oprimido de Augusto Boal e o reposicionamento frente às notícias.

Por: Diego Barros
       Diretor do Centro Cultural Brasil-Finlândia

O Teatro do Oprimido teve sua origem a partir das experiências realizadas por Augusto Boal, no final da década de 1960, e teve seu auge com o lançamento do livro Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Politicas, em 1975.

O conteúdo estético-teatral do Teatro do Oprimido - fortemente influenciado pela Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire - pode ser expresso, em cena, através de diferentes metodologias. Uma delas, que não figura entre as técnicas mais conhecidas, é intitulada Teatro Jornal. Esta forma teatral foi criada em resposta à falsa imparcialidade dos meios de comunicação, os quais, no entendimento de Boal, serviam na verdade como instrumento de divulgação implícita dos ideais dos seus proprietários.

O Teatro Jornal é um conjunto de doze métodos de transformação de textos jornalísticos em cenas teatrais que visa desmascarar a dita imparcialidade dos meios de comunicação, trabalhando em cena justamente os acontecimentos que eram distorcidos nas versões midiáticas. Revelava-se na apresentação as entrelinhas da notícia. Também mostrava-se ao público como na prática os editores de um jornal poderiam manipular o sentido de uma notícia, não somente manipulando o emprego das palavras, mas também a partir da própria diagramação do jornal. O Teatro Jornal foi criado no início da década de 1970, e foi muito utilizado em seus espetáculos no Teatro de Arena, em São Paulo.

Nos últimos tempos, o mundo encontra-se sob o jugo de uma crise econômica que, desde o início do segundo decênio do século XXI, tem influenciado mais nitidamente e incisivamente a realidade de diferentes sociedades. Ainda que o acesso à informação hoje em dia seja facilitado pela distribuição e compartilhamento nas redes sociais, por outro lado, a informação é mais facilmente manipulada por aqueles que conhecem e controlam os meios para tal. A crise - antes moral do que econômica -, oferece por outro lado uma necessidade de busca por um reposicionamento em relação a certos valores. Este reposicionamento, antes de ser confundido como uma tentativa de revolução, se constitui enquanto uma busca pela evolução, que é afinal a direção para a qual tudo e todos invariavelmente marcham.

*Para mais informações sobre Teatro do Oprimido, atores não-profissionais, ou sobre diferentes estéticas teatrais contemporâneas, acesse a versão online da tese Em busca de um ator livre: ideias sobre o não-ator em contextos teatrais contemporâneos, publicada pela Universidade de Lisboa:
repositorio.ul.pt/bitstream/10451/24546/1/ulfl216716_tm.pdf



29 de março de 2018

Entender para se comunicar: uso de materiais autênticos

Por : Helena Noto
        Professora de Português Língua Estrangeira na Finlândia.

Aprender uma língua é entendê-la para se comunicar com diferentes interlocutores e em variados contextos. Nesse sentido, a compreensão oral é uma habilidade linguística em potencial, que pressupõe uma atividade cognitiva e interativa do ouvinte.
Todas as ações pedagógicas pautadas no uso de materiais orais autênticos desenvolvem meios próprios e características específicas da competência oral que permitem ao aprendiz aproveitar os recursos linguísticos, aos quais vinculam-se os conteúdos culturais, a comunicação e os aspectos pragmáticos da língua objeto. 
Ressalta-se ainda, que o contato com o material oral autêntico, auxilia o aprendiz, sobretudo, a relacionar-se com as referências fonéticas daquela língua estrangeira, consideradas necessárias no processo inicial de aquisição –  entender para se comunicar. 
"Se a competência que um falante nativo mais frequentemente aciona é a compreensão oral, ao ocupar 40 a 50% do tempo da comunicação a ouvir, legitima-se o desenvolvimento de atividades didáticas de compreensão (e expressão) oral na sala de aula que vão ao encontro desta competência comunicativa, qualquer que seja o nível de proficiência, de modo a que o aluno continuamente ouça e aprenda a ouvir na L2" (Bagão, 2014, p.5).






26 de março de 2018

Gestão e Política da Língua Portuguesa

Por: Helena Noto
       Professora de Português Língua Estrangeira na Finlândia. 

A gestão de uma língua, tanto no âmbito político quanto econômico, evidencia um papel importante para a política externa do país e roga estratégias muito bem elaboradas para a promoção da língua-alvo. 
"Resumidamente, como a língua é um ativo de um país, a Língua Portuguesa é estudada por ser um meio de comunicação internacional, por ser uma língua oficial de trabalho – inclusive em 32 organizações internacionais, por ser uma língua de ciência e, ainda, por ter a dimensão identitária de diásporas. Ainda segundo dados do Instituto Camões, temos a 5ª. língua com maior número de usuários na internet e a 3ª. língua mais utilizada no Facebook." Leia mais aqui.



25 de março de 2018

Finlândia: a educação acima de tudo

Por: Helena Noto
       Professora de Português Língua Estrangeira na Finlândia.  


A Finlândia tornou-se, ao longo dos tempos, no cenário internacional, uma "voz imperativa" nas políticas públicas de educação. A equidade no ensino e a valorização do educador são um dos principais pilares para esse sucesso.
"O ensino é uma profissão muito popular na Finlândia. Muitos dos nossos jovens talentosos querem ser professores. É uma profissão respeitada." Leia mais aqui.
Leia também/ Also read: Finnish Education System